CUMPADRE LOBISOMEM
Mês de agosto, um mês de ventos quentes e ares estranhos, por tradição época de mau agouro, onde as desgraças acontecem. Seu Leandro, velho vizinho da fábrica de farinha, recolheu a lenha no final da tarde, acendeu o fogão e ficou pensando no acontecido da última lua cheia, quando um imenso cachorro preto adentrou o terreiro da casa, arranhando a porta da cozinha e fugiu quando ele saiu com um tição de fogo nas mãos. Estava preocupado, pois sua filha tinha um recém nascido na casa ainda por batizar. Ficou absorvido em pensamentos olhando o fogo, sabia que era lua cheia e um lobisomem rondava as vizinhanças uivando pelos quarteirões. João Pedro o futuro padrinho da criança adiou o batizado duas vezes em julho, agora não queria que o mesmo ocorresse no fatídico mês. Os pais da criança saíram para um velório e deixaram os netinho aos cuidados do avô. Sua intuição o avisava que naquela noite algo aconteceria, de vez em quando ia até o quarto espiar o menino que dormia mansamente. Vento forte, quente e seco que assobiava ao bater na fresta da velha porta, a lua cheia avermelhada subia o céu lentamente, dando um clarão lúgubre à cidade.
Logo ouviu a cachorrada da vizinhança latir numa pavorosa total, alguns choramingavam um uivo triste e amedrontado. Ouviu então um pesado andar, com unhas a raspar o piso de tijolos na entrada da casa, algo rondava por ali, percebeu um suspirar como um espirro abafado no canto inferior da porta. Seu Leandro pensou em pegar a cartucheira, mas lembrou-se do perigo em tirar sangue deste possível lobisomem, pegou um chicote foi até o oratório, retirou uma vela e a esfregou fortemente sobre o mesmo. A criança acordou aos berros, como pressentindo o perigo que a rondava. Sabedor que tições de fogo espantavam o amaldiçoado animal, levou algum para o quarto da criança, despejou sobre eles alhos amassados criando uma fumaça pesada e cheirosa. Em seguida abriu rapidamente a porta e enfrentou o imenso cachorro preto de olhos vermelhos faiscantes. O animal rosnava, porém seu Leandro, confiando na proteção divina foi se aproximando do animal desferindo de quando em quando uma chicotada, encurralando o animal próximo ao paiol, empurrando-o para dentro e num golpe certeiro fez o chicote enrolar no pescoço do bicho prendendo-o com força, o efeito sagrado a cera benta o imobilizou, tremendo e suado, seu Leandro pegou um rolo de fumo de corda e atou o animal com ela, único tipo de corda que prende este ser. Aproveitou-se disso e deu uma surra violenta de chicote no monstro, deixando-o largado no chão, porém, sem tirar-lhe sangue.
Pegou seu neto e foi a procura da policia, horas mais tarde depois de muito papo para convencer os policiais em acreditar no acontecido chegaram ao paiol, quando então, para sua surpresa, defrontaram-se com um homem nu, todo marcado de chicotadas, identificaram João Pedro, que relatou a policia que fora atacado violentamente por seu Leandro quando dirigiu-se a sua casa para dar-lhe um recado.
Seu Leandro amargou uns três dias no xilindró da cidade e respondeu processo por agressão física. João Pedro, envergonhado desapareceu da cidade, a maioria acreditava que ele realmente fosse o lobisomem que por ali rondava. Depois de seu desaparecimento nunca mais ouviram nos dias de lua cheia, o uivar do lobisomem ou o latir amedrontado dos cães da vizinhança. Hoje seu Leandro conta orgulhoso o acontecido, mesmo tendo amargado uns dias de cadeia, foi ele quem conseguiu livrar a vizinhança do terrível animal.
Profº Valter Cassalho
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