Lá pelas bandas do bairro da Bocaina, na casa do Coronel Leôncio, nascia mais um rebento. Para preocupação de muitos, era o sétimo filho homem do casal. Alegria do pai, preocupação da mãe, pois sete filhos do mesmo sexo, não era bom agouro. Enfim, o menino apesar de pequeno e magro era saudável. Transcorreu um ano tranqüilo, o menino foi batizado e recebeu o nome de Saturnino, um nome nada católico como diziam uns para um sétimo e agourento filho.
Na quinta-feira santa, por volta das nove horas da noite, ao aproximar-se do berço, a mãe do menino deu um grito, percebeu que o rebento havia desaparecido, estavam no berço apenas às roupas e os cueiros. Desespero geral pela casa, procura daqui, procura dali e nada de achar o garoto. Convocaram todos os colonos da fazenda, tochas foram improvisadas, deram buscas por horas, chamaram a policia e nada! Onde estaria o menino do coronel. Desaparecer num dia santo destes, só podia ser coisa do demônio.
Com muito custo, convenceram o Coronel em mandar buscar a benzedeira nhá Rosa, afinal, esse desaparecimento poderia ser feitiçaria, rapto por bruxas ou curupiras. A velha benzedeira chegou com a mesma tranqüilidade de sempre, fez algumas invocações para São Miguel, depois para Santo Antonio, enfim para São Bento. Queimou palma benta, alho e pó de café no braseiro. Percebeu então que havia um cachorrinho preto embaixo da mesa a roer alguns ossos. Nhá Rosa, perguntou sobre o dono do cachorro, ninguém soube responder, havia aparecido ali. Apesar de ser um filhote era brabo, rosnou e esperneou quando Nhá Rosa o pegou e saiu com ele. Dirigiu-se até o galinheiro e em seguida ouviram um choro de criança e a velha benzedeira voltava com o neném nos braços, todo sujo de fezes de galinha. Lavaram a criança e a benzedeira teve uma reunião de portas fechadas com a família.
Tal atitude deu mil comentários, todos foram embora, nada perguntaram a família e o caso foi encerrado, porém, perceberam que houve um novo batizado, a criança foi re-batizada pelo irmão mais velho e teve seu nome mudado para Bento. No ombro esquerdo da criança ficou por muitos anos uma feia cicatriz, segundo alguns, foram agulhas espetadas num ritual mágico para destruir o fadário deste pobre inocente. Ninguém questionou nada, mas no fundo sabiam que aquela criança com certeza seria mais um lobisomem e rezavam para que o poder das simpatias de nhá Rosa conseguisse vencer os mistérios da lua cheia.
Profº Valter Cassalho
Olá Lobisomem,seja benvindo ao mundo dos blogueiros. Queremos ouvir suas histórias e saber um pouco da sua vida em Joanópolis.Um abraço de seu fã Lafa.
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