quarta-feira, 10 de agosto de 2011

MEUS TEMPOS DE CRIANÇA NO CORONEL JOÃO ERNESTO FIGUEIREDO

“Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança.
Que saudade da professorinha,
Que me ensinou o beabá...”


Ouvindo a música acima do saudoso Ataulfo Alves (MEUS TEMPOS DE CRIANÇA) em que canta: EU ERA FELIZ E NÃO SABIA, não poderia deixar de lembrar minha passagem pela Escola Coronel João Ernesto Figueiredo. Isso foi lá pelos idos do governo militar da década de 70. Lembro-me com precisão o dia que subi as escadarias da Escola e deparei-me com o quadro do Coronel, com seu semblante altaneiro, imponente e simpático, os corredores e o barulho da gritaria da criançada a correr e brincar. Juntei-me a elas, todos vestidos de calça de tergal cinza vincada, sapato colegial preto, engraxado e limpo, camisa branca impecável, maleta preta nas mãos e o cabelo penteado por mamãe, meticulosamente repartido do lado e lambido na testa, tão impecável que parecia que íamos a missa.  As meninas usavam camisa branca, calça cinza ou saia xadrez cinza e meias compridas, cabelos presos. Foi o “seu” Agostinho  bater a sineta que todos se posicionaram no pátio em fila indiana, para ouvir e recitar a Oração pelo Brasil e o Hino Nacional.  Professoras com seus jalecos rosa nos conduziam a sala de aula, ficávamos em pé até que a professora a “Dona” sentasse para que fizéssemos o mesmo. Nada de chamar de tias ou ter intimidades, nossas Donas poderiam ser elas Eunice, Ana, Adelaide, Cida, Toninha, Vera, Maria Tereza, Sonia, Ceres, Leontina eram respeitosamente tratadas e com suma autoridade em sala de aula eram elas nossos ícones; naquela sala de aulas tínhamos dois ícones, a professora e a bandeira do Brasil aos quais devíamos respeito e reverência. Bons tempos aqueles! Dos meus colegas não me lembro que algum tenha crescido revoltado ou frustrado por isso, pelo contrário, parece que adquirimos valores sobre o respeito à pátria, a pessoa e a hierarquia. 
Foi neste CAMINHO SUAVE que fomos alfabetizados, professoras carinhosas porém rígidas, um bom puxão de orelha, uma reguada na cabeça ou um castigo não levou ninguém ao psiquiatra e tão pouco fez algum aluno pegar uma arma e sair atirando nos colegas.  Qualquer castigo era visto como uma forma de educar, por isso nossas mães entendiam isso como uma boa conduta profissional e ao invés de irem a escola fazer escândalos com professores, completavam o castigo em casa. Afinal nesta época educar era responsabilidade  dos nossos pais.
Bem, depois das nossas tabuadas, composições, ditados e chamadas orais, em especial sobre as datas cívicas, íamos ao recreio, era brincar de pega-pega, jogar bola de gude nos buracos feito na terra embaixo das arvores, as meninas pulavam corda e brincavam de roda, tomávamos a sopa, a merenda feita de caldo de feijão com macarrão, arroz doce, sagu com leite e a inesquecível sopa de fubá com couve das dona Vicentina e Gonçalina. No pátio éramos vigiados pela dona Emilia Ximenes e Seu Agostinho que mais eram avós do que repressores inspetores de alunos. Saudades...
Fazíamos fantasias, quadrilhas, teatros e gincanas, tínhamos a fanfarra com suas balizas, e na semana da Pátria era toda uma magia, todos com fitas verde-amarelo no peito, descíamos de três em três para fazer guarda a bandeira na praça central, o barulho das caixinhas e bumbos enchiam os corredores durante os ensaios da fanfarra. Enfim o desfile do Sete de Setembro, todos com seus uniformes, carregando estandartes e bandeiras, fazendo coreografias com arcos, desciam para os discursos e honras a Pátria.  Em 1978 houve o grande desfile de 24 de junho no primeiro centenário de Joanópolis, bandeiras levadas por meninas de vestidos longos, garotos vestidos como coronéis representando os fundadores, juntou-se a nós carros alegóricos de empresas e foi exibido naquele dia toda a riqueza do município.
Quem não se lembra na escadaria da quadra do Teatro do 07 de Setembro? Com vivas a Independência ou Morte, com alunos vestidos de Dom Pedro,  Dona Leopoldina, José Bonifácio e outros baluartes da Independência do Brasil.  Tudo sob o olhar severo de Dona Joanita, Professor Wanher, Célia Badari e depois do Professor Antonio (ah! Coraçãozinho!).
Uniforme era coisa obrigatória, o sapato tinha que durar um ano, nem que para isso colocássemos papelão dentro quando ele furava, e nos dias de chuva encharcava nossos pés e tingia de barro nossas brancas meias,  quem não tinha  uniforme ou material era aluno da Caixa e provido tal qual os outros no inicio do ano.
Lembro-me ainda dos murais da Escola com campanhas educativas, copas do mundo, eventos ou a exposição de artesanato no final do ano pelos alunos da Dona Yolanda.
No recreio havia música, alunos dançavam, brincavam, brigavam as vezes. Na educação física todos as sete da manhã  fizesse frio ou calor de calção branco, camiseta branca e conga ou kichute, as meninas saia branca, camiseta branca e um fraldão vermelho (nada sensual). Mais tarde nas aulas adotamos jalecos brancos, parecia uma escola científica, todos iguais, limpos, impecáveis, inadmissível pensar em bermudas, roupas curtas e muito menos óculos escuros nas salas de aulas. Todos se dirigiam a escola a pé e ao meio dia saiam em disparada, com o alto-falante da igreja tocando o Hino do Corintians e o padre Chico em sua casa jogando bala para a criançada. Até o caminho para a escola era divertido, tinha o saudado Padre Chico, tinha a venda dos Luiz Borges na esquina, nas calçadas amarelinhas traçadas a giz, às vezes algum sorveteiro ou vendedor de algodão doces com suas buzinas. Brincávamos de forca na lousa, futebol, vôlei e queimada, figurinhas, meninas brincavam de passar anel, advinhas, virar estrela, rodas, depois vieram brinquedos modernos como os bambolês e o vai-e-vem, apareceram as canetinhas silvapen (sonho de todo aluno), lápis borracha e o cobiçado giz de cera, mas também tinha o lápis com tabuada que usávamos as escondidas, afinal, tabuada era coisa para se saber na ponta da língua, tinham  os decalques que eram soltos em água e ilustrava os trabalhos de Moral e Cívica ou OSBP. Tudo isso comprado na moderna e atualizada papelaria da Bela e muitas vezes éramos atendidos pelo João Toledano, figura ilustre da cidade. Nossas provas cheiravam a álcool impressas em mimeógrafo  e folhas de estêncil bem como os desenhos didáticos para colorir.
Foram nesses anos tido como de chumbo que fiz meus verdes anos de escola. Eu e muitos neste centenário do Coronel temos saudades das lembranças que guardam estes muros, dos medos dos porões da escola com seus mitos  como esqueletos guardados, antigo cemitério ou a loira do banheiro, as inseguranças da adolescência, das paqueras, beijos às escondidas, as primeiras aventuras do amor, da adrenalina das competições, mas também das colas e das provas, das artes, da matança de aula. Lembranças dos colegas, dos professores, das brincadeiras, dos estudos, da sopa de fubá com couve, das sombras das árvores e da sineta do seu Agostinho que até hoje nos chama em fila para reverenciar os anos idos e a saudade que ficou e como disse o Ataulfo: Eu não sei pra que que  a gente cresce senão sai da gente esta lembrança.



(autor: Valter Cassalho)
(Obs- direitos reservados – não pode ser publicado em blog ou jornal de Joanópolis sem autorização do autor).

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